sábado, 7 de dezembro de 2013

Viva seu casamento antes que ele morra

Esta semana, a convite de um casal amigo, fomos ao cinema assistir ao filme “Vovô sem vergonha”. Éramos três casais naquela noite de confraternização. O filme, politicamente incorreto do início ao fim, começa com o momento em que a esposa de Irving falece, o que traz motivos de comemoração para o velhote. Mas antes disto, Irving precisa levar seu neto Billy (Jackson Nicoll, carisma puro) ao outro lado do país para entregá-lo a seu pai, já que a mãe do garoto será presa devido ao porte e uso de drogas.

O filme não é para moralistas e pudicos exacerbados, mas para quem quer rir e se descontrair um pouco, como aconteceu no cinema naquela noite. As pessoas davam gargalhadas quase que o tempo todo porque o velho era sem vergonha mesmo. Enquanto isso aproveitei para tirar algumas lições para a vida conjugal, como tenho procurado fazer em todos as ocasiões. Depois que você aprende a olhar para tudo o que acontece ao seu redor como uma parábola para a vida, tendo sempre Jesus como chave hermenêutica de tudo e não apenas das Escrituras, é maravilhoso. Nisso se aplica a palavra que diz: "Todas as coisas são puras para os puros", exceto o que é contra a vida.

No velório da mãe (que foi uma confusão), a filha aparece toda revoltada contra o pai e entrega o filho ao avô para que o mesmo entregue o neto ao pai. Isso me pareceu mostrar uma família em total desarmonia. O marido ao invés de lamentar a morte da esposa, comemora, e a filha sai do velório para a prisão pelo uso de drogas. Isso diz da necessidade de conversão entre pais e filhos, como diz a profecia bíblica. Existem muitos filhos órfãos de pais vivos que nunca deram atenção aos seus filhos, fazendo-os crescer com total necessidade de amor, carinho, e qualidade de vida. Essa carência afetiva torna os filhos vulneráveis nesta sociedade violenta e fria.

Por alguma razão (problemas com a funerária), Irving não conseguiu sepultar sua esposa. Por isso mesmo, naqueles dias quando teve que levar o neto para o pai do menino que morava numa cidade distante, ele colocou o corpo da esposa morta no bagageiro do carro e viajou com o cadáver, sem sentir nenhum remorso, até que de volta para casa, joga o corpo da velha de cima de uma ponte dentro do rio. Será que existem casais andando com o cônjuge vivo-morto? Certamente que sim.

O avô acaba voltando para casa com o neto que não ficou com o pai. O menino gostava muito do avô e este do menino. Um parecia suprir a carência afetiva e relacional do outro. Há pontos positivos nisso, mas ai do marido ou da esposa que trocar o cônjuge pelos filhos ou pelos netos. Talvez seja por este motivo que a maioria dos casais americanos se separam, ou seja, quando os filhos saem de casa. Um olha para o outro e por não terem mais o que tinham em comum que eram os filhos, se separam. 

Não espere que seu cônjuge morra para viver intensamente seu casamento. Depois da morte da esposa, Irving reclamou para uma mulher que estava ao seu lado na recepção de um consultório, que há muitos anos não fazia sexo com a esposa. O filme mostra com ênfase a obsessão do velho pelo sexo, o que parecia ser pelo menos em parte resultado de uma vida sexual frustrada. Isso retrata a realidade de muitos casais que têm uma sexualidade insatisfeita por razões as mais variadas. Às vezes o problema passa pela falta de saúde física, mas na maioria das vezes é falta de saúde relacional, tabus, preconceitos, criação disfuncional e tantas outras razões. Poucos casais têm uma vida sexual com qualidade, o que é uma pena, deixar de gozar dessa bênção que Deus nos deu.

A Bíblia diz: “Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta vida pelo trabalho com que te afadigaste debaixo do sol”. O casamento também é feito de brincadeira, brincadeira de gente grande, mas brincadeira. A vida conjugal é longa e não sobrevive apenas com seriedade e moralismos que não qualificam a relação. Casamento é feito de alternativas, combinações e diferenças. Quem não sabe dissimular e deixar pra lá muitas coisas no casamento, pode morrer de tédio. Tem a hora do riso e tem a hora do choro, a hora da dança e a hora do enterro. Se você não entrar no ritmo do outro, não dá. Quem casa não pode viver engessado, ser intolerante e inflexível. Quem casa não pode ignorar o momento do outro, o dia do outro, o humor do outro, a vontade do outro, e a oportunidade do outro.

Casamento é coisa séria, mas também precisa de leveza, de um pouco de gaiatice. Muitos casais passam a vida inteira sentados na praça e não brincam. Quando o casamento é funcional e saudável, a relação fica mais espontânea e intensa em seus valores à medida que o tempo passa. Mas, muitos casais nunca brincam, ou deixam de brincar e passam a competir entre si. Quanta gente gastando sua energia no casamento para brigar, reclamar e não para brincar e fazer o outro feliz.

Acredito que muitos casamentos são tediosos como o casamento do “vovô sem vergonha”, onde tudo parece negativo na relação. Tem gente que se associa tanto ao negativo que mesmo falando de algo positivo enfatiza o que seja negativo, como fizeram os religiosos com Jesus. Ele era amável, acessível, cheio de graça. Mesmo assim foi visto como um glutão, bebedor de vinho e amigo de pessoas inaceitáveis. Essa cosmovisão negativa destrói qualquer casamento. Pessoas assim não choram com os que choram, nem se alegram com os que se alegram.

O equilíbrio tem uma importância que devemos esperá-lo em todas as situações da vida. O vovô não era equilibrado, e isso num casamento causa muitos problemas. Um casamento saudável é equilibrado. Nele há alegria e tristeza, pois é assim que a vida é. Uma pessoa normal não vive sempre alegre nem sempre triste. As duas expressões de sentimentos, tanto da dança como do pranto fazem parte de uma vida equilibrada. A capacidade de viver entre esses dois polos é o que dá sentido à vida.

Os poetas compõem melhor no choro ou na alegria. É entre a dança e o pranto que a vida acontece. O casamento ondula entre essas duas realidades, e nesse meio devemos brincar fazendo poesia com a vida. O livro dos Salmos ilustra bem isso. Ele fala de angústia, mas de forma poética. O livro de Cântico dos Cânticos fala do prazer físico, mas também de forma poética. A poesia pode estar tanto no prazer quanto no doer. O vovô era um tarado por mulher, mas não parecia ser romântico.

Gostei da jovialidade do vovô e isso devemos imitar; nunca devemos perder o espírito de menino dentro de nós. Algumas pessoas morrem aos vinte anos e são enterradas aos sessenta. Bom é quando você se olha no espelho com sessenta anos e se sente com vinte. A vida não pode perder a leveza. Precisamos parar de complicar e aprender a brincar. Isso pode acontecer plenamente de forma respeitosa e sem inconveniências. Precisamos curtir a vida dentro do casamento. O casamento acaba quando o casal não sabe mais brincar, apreciar-se, curtir a vida.

Hoje é dia da salvação, é dia sobremodo oportuno para salvar seu casamento. Hoje mesmo olhe para sua esposa com novos olhos, faça carícias nela, afague seus cabelos, beije sua amada com muito carinho. E você esposa, procure seu amado, mostre amor, apreciação e respeito por ele. Levantem-se do banco da praça da vida e comecem a brincar. A praça é nossa! Deixem os meninos livres, se libertem da religião castrante, moralista, e opressora e viva o seu casamento antes que ele morra. Talvez alguém diga: “O meu casamento já morreu”. E eu lhe digo: Jesus ressuscita os mortos, inclusive casamentos.

Antonio Francisco.

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