terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sexo e prazer

Muitas pessoas procuram especialistas em busca de solução para seus problemas sexuais, até que percebam que muitos ou quase todos esses problemas não são de natureza orgânica, mas relacional, moral, emocional, cultural e espiritual. É bem verdade que os médicos e terapeutas devem ser consultados sempre que necessário, porém, muitas soluções estão dentro de casa, ou seja, na própria vivência do casal. Ressentimentos, complexos, desinformação, atrapalham qualquer relação.

Uma compreensão distorcida sobre sexo e prazer impede que o casal usufrua desse que é um dos melhores prazeres desta vida – o prazer sexual. Quando eu era menino muitas vezes fui repreendido por minha avó por mencionar o nome de Deus e logo citar o diabo na conversa. Ela dizia que isso era pecado e um absurdo aos olhos de Deus. Do mesmo modo, muitas pessoas ficam perturbadas quando Deus e sexo são mencionados na mesma conversa. O que é isso, senão uma compreensão distorcida sobre sexo! Essas pessoas olham para o sexo como algo impuro, e o praticam, quando o fazem, com sentimento de culpa. Geralmente o ato sexual é apressado, sem carícias e sem prazer.

Não é difícil encontrar pessoas casadas que não sabem na prática o que é orgasmo... casais que já se magoaram tanto que perderam a capacidade de se unirem sexualmente... casais jovens com boa saúde que não desfrutam prazerosamente do sexo por questões religiosas... e muitas outras pessoas que conhecem o sofrer, não o prazer na relação.

Casais infelizes na vida sexual podem parar de alimentar atitudes errôneas e defectivas em relação ao sexo. O casal deve desfrutar do sexo sem medo de ser feliz, pois, Deus criou o sexo não apenas para a procriação, mas também para o prazer, caso contrário, uma mulher não deveria ter relação sexual depois de perder a capacidade de engravidar. Mas sabemos que o sexo não se limita a esse curto período de vida, pelo contrário, ele pode ser gozado em plena velhice, porque os órgãos genitais não se atrofiam nem perdem suas funções vitais, ainda que o prazer diminua à medida que o tempo passa.

Um casal pode aprender a gozar no sexo. Os maridos podem desenvolver um casamento excitante, “com a mulher da sua mocidade”. A aridez de um casamento pode se transformar num jardim florido de amor e os erros do passado deixados pra trás. Por isso, marido e mulher fazem bem em praticar o sexo com frequência e não devem se privar um ao outro, a não ser por mútuo consentimento, por algum tempo, por alguma razão específica, e, novamente se ajuntarem sexualmente. A melhor prevenção contra a tentação sexual é muito sexo na vida de um casal que se ama.

Baseado na sabedoria de Deus, um pai deu o seguinte conselho ao seu filho: “Seja bendito o teu manancial [as partes do teu corpo que produzem vida], e alegra-te [goza excitantemente] com a mulher da tua mocidade [a mulher que você escolheu], corça de amores e gazela graciosa [a beleza física do corpo feminino é arrebatador]. Saciem-te os seus seios em todo o tempo [os seios da esposa é uma fonte de prazer]; e embriaga-te sempre com as suas carícias [experimente o êxtase do prazer com as carícias dela]”. A relação sexual de um casal deve ser festiva e abençoada com a entrega total de corpos possuídos de amor que dão e recebem prazer e que unem almas e mentes felizes.

Deus criou homem e mulher com a necessidade mútua do sexo, de modo que essa necessidade é insubstituível, exceto por alguma anomalia genética ou pela decisão de viver sem satisfazer esse desejo por alguma razão de fórum íntimo. Mas, o ideal de Deus é que um casal viva para a satisfação mútua, numa relação sólida e comprometida, como “uma só carne”. Esse convívio deve ser transparente e sem vergonha, no sentido que um conhece ao outro e se se aceitam como cada um é. O prazer sexual passa por esse conhecimento pessoal integral e não apenas por uma sensação física. A qualidade do prazer no sexo tem tudo a ver com esse mútuo conhecimento.

Fomos criados “por modo assombrosamente maravilhoso”, o que indica os inúmeros detalhes intrincados de nossos corpos, cheios de sensações físicas intensas e maravilhosas para que maridos e esposas possam gozar juntos. Nada deve interferir nesse universo de prazeres de um casal, que usando de criatividade deve dar vazão aos desejos na felicidade mútua da relação a dois.

Desejar é uma virtude que implica em prazer, o qual se expressa de várias maneiras. Aqui consideramos o prazer sexual, partindo do pressuposto que ele é uma virtude a ser usufruída e não reprimido como o Cristianismo tem feito ao longo dos séculos. Se não devemos dá permissão descontrolada ao desejo sexual, gerando assim decadência licenciosa, por outro lado, não devemos reprimir ao que é inerente ao ser humano para ser gozado com imenso prazer devidamente.

Quando suprimimos a pulsão do desejo sexual por entender que a mesma é pecado, caímos na neurose sexual obsessiva adoecida pela repressão, o que também gera decadência semelhante à permissão descontrolada. Ignorar os desejos ou criar leis proibitivas não tem nenhum poder contra a sensualidade. Prazer é prazer, não tem como negar nem existe nada errado no prazer em si. Isso não valida o prazer pelo prazer, mas, aceitá-lo como nato, naturalmente desopila muitas coisas na cabeça.

O prazer sexual deve ser desfrutado entre duas pessoas que mutuamente se amam e que trocam afeição e carinho, comprometidos pela conjugalidade, mas sem jamais desqualificar a pessoa amada nem escravizá-la em nome do amor, pois prazer sem liberdade gera doença afetiva. Esse seria um prazer apenas carnal, mas sem o entrelaçamento psicológico e de alma, onde o prazer atinge o ápice do gozo.

A carência sexual sufocada não está mais se contendo, porém, tem provocado uma prática exacerbada culposa e sôfrega devido a repressão histórica. O Cristianismo ensinou ao mundo ocidental que Deus é contra o prazer sexual. Isso pode ser notado na ênfase dada à mãe de Jesus como virgem, antes, “durante e depois do parto”, e nos sacrifícios e penitências como expressão de adoração e gratidão a Deus por parte de católicos e evangélicos. O prazer sexual entre marido e esposa já foi objeto de punição eclesiástica num período da história cristã, e continua sendo reprimido.

Prazer sexual é mais que orgasmo. Prazer sexual é gozo, é êxtase, é cumplicidade, conhecidos apenas por um casal onde haja entrega mútua incondicional conforme a consciência de cada uma das partes, onde os dois se tornam “uma só carne”. Isso só acontece numa cama sem mácula, sem culpa e sem reservas pudicas por causa da religião ou de conceitos preconcebidos.

A fidelidade conjugal não passa apenas por uma vida sexual de qualidade entre um casal, mas certamente tem aqui uma fortaleza capaz de enfrentar grandes tentações. O livro de Cântico dos cânticos apresenta os componentes de uma relação conjugal apaixonada, sadia, provocativa e excitante. Eles se entregam sem pudor e sem vergonha ao prazer ao ponto de desmaiarem de amor, degustando das delícias do amor. A nudez é observada e admirada sem pressa numa contemplação arrebatadora; o sexo é praticado com variedades de locais e horários sem que a rotina e a mesmice lhe contamine; joias, perfumes, adornos, enfeites, penteados, beijos, e carícias, fazem parte do que o casal tanto valoriza; o vinho é bebido no cálice genital da amada no usufruto do prazer sexual, sem culpa e sem pudor. Essa apreciação mútua qualifica e fortalece a relação conjugal.

Antonio Francisco.

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